Musk admite arrependimento por envolvimento político

O CEO da Tesla, Elon Musk, afirmou em um podcast nesta semana que se arrepende do tempo gasto tentando influenciar e reduzir estruturas do governo norte-americano, dizendo que “não faria isso de novo”. A declaração surge após um período conturbado em que Musk assumiu papel informal de conselheiro do ex-presidente condenado Donald Trump, sugerindo cortes profundos em funções essenciais do Estado.


No início deste ano, Musk passou a liderar um grupo apelidado por ele de “Departamento de Eficiência Governamental”, embora não fosse um órgão oficial. Antes de assumir o papel, prometera cortar dois trilhões de dólares do orçamento dos Estados Unidos, algo impossível diante do limite de gastos discricionários do país.

Em menos de meio ano, após um rompimento público com Trump e uma queda significativa nas ações da Tesla, Musk deixou a função. Apesar de alegar ter reduzido 200 bilhões de dólares em despesas federais, análises independentes mostram que o resultado real foi o oposto: aumento do déficit público. O impacto decorre da interrupção de serviços essenciais, custos com demissões e perda de arrecadação, já que bilionários inadimplentes passaram a sofrer menos fiscalização. Especialistas alertam ainda que cortes em áreas críticas podem resultar em milhões de mortes a longo prazo.

Enquanto isso, o Congresso norte-americano aprovou uma lei que concede quatro trilhões de dólares em benefícios fiscais a grupos de alta renda, adicionando 3,3 trilhões de dólares ao déficit. Esse valor é 16 vezes maior que os supostos “cortes” atribuídos a Musk.

Além do impacto fiscal, a atuação política do empresário afetou diretamente a percepção pública sobre suas empresas. Nos últimos anos, Musk ampliou seu discurso ideológico, apoiando grupos contrários à energia renovável e promovendo mensagens alinhadas a movimentos extremistas, inclusive no exterior. A postura afastou consumidores, gerou protestos globais e deteriorou a imagem da Tesla, hoje a única marca de veículos elétricos com percepção negativa no mercado norte-americano.

Pesquisas apontam que a postura pública de Musk fez a Tesla perder mais de um milhão de vendas apenas nos Estados Unidos, à medida que clientes corporativos e individuais abandonaram a marca. Até executivos da própria empresa teriam alertado o CEO sobre o dano reputacional crescente.

Apesar de previsível, o impacto surpreendeu Musk. No podcast, apresentado por Katie Miller, esposa do estrategista político de extrema direita Stephen Miller, ele afirmou que sua participação no grupo de Trump foi “um pouco bem-sucedida”, mas reconheceu que teria sido melhor “trabalhar nas minhas empresas”. Segundo ele, se tivesse se dedicado aos negócios, “não estariam queimando os carros”, referência exagerada aos protestos que, na realidade, raramente envolveram incêndios.

A fala marca uma rara admissão de que suas decisões políticas prejudicaram a Tesla em um momento de desaceleração nas vendas da empresa, tanto nos Estados Unidos quanto em mercados internacionais.

Ainda é incerto se esse momento de autocrítica sinaliza uma mudança de postura. A entrevista em um programa alinhado a grupos extremistas indica que Musk não se afastou totalmente do ambiente político que contribuiu para a crise de imagem que enfrenta. Mesmo assim, sua admissão pública de erro pode representar o início de uma revisão de comportamento.

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